terça-feira, 7 de abril de 2009

Crónicas dum trabalhador

Wassup gente?!

Bem, este mês cabe-me a mim usufruir do dia 7. Tal como tem sucedido com posts de outras pessoas, vou também eu contar em que consta a minha vida agora. Uma pista: não é uma tese! Enfim, muitos de vocês já sabem, pelo menos por traços gerais. Face às condições precárias da vida dum bolseiro, decidi aquilo que acredito que muitos de vós também decidirá nos próximos 10 anos (tirando claro o Sir Bubix Weetabix Chocolatimix e o Tulicreme pacholenga, que esses ainda vão dar aulas aos nossos filhos - eu conheci-vos enquanto jovens inconscientes hã, por isso depois quero o mesmo tratamento para eles que o Arrabaça para o primeiro dos 2, ou que o Dinis Pestana para o 2.º =P): agarrar na investigação e chutar para canto.

Enveredei então por algo mais comercial, na área do diagnóstico médico. Sou um especialista de produto de análises diferenciadas e estou a trabalhar afincadamente para alcançar a posição de Gestor de produto, algo que seria inédito de conseguir antes dos 27 anos. Mas eu vou conseguir e quero que seja no prazo máximo de 12 meses. Ora, tenho muito trabalho pela frente e tenho muito trabalho todos os dias. Isto não é exagerar nem quero por nada desvalorizar o vosso trabalho quotidiano no laboratório mas, a sério, não têm mesmo noção. Neste momento sou o responsável pelo país inteiro pois a minha equipa de 3 pessoas (eu, outra especialista e a nossa chefe Gestora) ficou recentemente desfalcada e sobrei apenas eu. Mas não leiam isto como um queixume. Nada disso. Enfrento o trabalho e é também uma oportunidade de provar o meu valor na empresa em que estou e neste mercado em geral (sim, porque quando as pessoas saem da minha empresa é porque são pescadas por GRANDES empresas, tipo Roche, Siemens ou Bio-Rad). Neste momento, para além do trabalho habitual dum especialista, estou também a dar formação a novos elementos para que depois se crie uma nova equipa de 3 pessoas, equipa essa que eu quero liderar. Ora, explicar-vos o meu trabalho não é fácil porque não é nada linear. Mas como vocês não querem ler essa seca, evito também o trabalho de a escrever e passo para algo mais giro, esse sim o meu objectivo quando iniciei este post:

A semana passada fui com o meu patrão (dono da empresa, visto ser uma empresa familiar) a França a um "distributor meeting" duma nossa representada especialista em biologia molecular, com um leque cada vez maior de parâmetros de virologia por PCR Real-Time. O que eu fui fazer não sei bem porque aquilo era algo só para os big-bosses e reuniu os responsáveis europeus pela distribuição destes produtos nos seus respectivos países. Dum total de 20 indivíduos importantes, havia gente de Espanha, Finlândia, Grécia, Alemanha, Áustria, só para citar alguns (até Turquia, um senhor chamado Ugur mas com acentos nos "u's" que eu não sei bem e a que chamava apenas de Hugo).
Aterrámos em Toulouse e ficámos em Foix (que se lê "Fuá" e não "Foikse"), num sítio com croissants ao pequeno-almoço uh lá lá. Eu gostei muito desta viagem porque permitiu-me ter uma noção diferente, saber como é o mercado noutros países, que estratégias usam... E aprendi, dei chocolate, trouxe alguns cartões de CEO's (eram pessoas tão acessíveis que nunca supus) e já troquei até mail's com um big-shot holandês sobre música electrónica, vejam bem. Portanto estou a gostar do que faço. Eu compreendo (quer dizer, não compreendo mas tenho que ser simpático) que façam comparações erradas e que me apelidem de "cigano" e outros nomes afins (isto não é uma indirecta para ti Marina, não és assim tão importante =X) mas acreditem que este é um trabalho muito importante do ponto de vista cívico pois inclusivamente depende de nós educar os clínicos, médicos e técnicos, para novidades de que não estão a par (se vocês soubessem da merda que se faz em muito laboratório, em muito hospital deste país, pura e simplesmente não acreditavam) e para as quais quem ganha é o cidadão comum, sobretudo o doente (cada vez mais comum, portanto).

As conferências a que assisti acredito que não vos interessem. Agora isto sim tenho que contar: numa das tardes, além duma visita guiada por Toulouse (ficam a saber que é a 4.ª maior cidade de França e que só de estudantes tem cerca de 100 000, sendo portanto uma cidade muito jovem e dinâmica), fomos à(s) fábrica(s) da Airbus, mais concretamente, onde foi desenvolvido e ondam montam o novo Airbus A380, um portento da engenharia aeronáutica. Eu fiquei absolutamente rendido com o que vi e com os valores astronómicos com que me deparei. Estamos a falar de uma capacidade máxima de 555 pessoas, um consumo médio de 2,9 l/passageiro/100 km (para perceberem, um avião "normal" tem um consumo médio na ordem dos 4-5 litros; o do Concorde era de 15!), um depósito de 310 000 l de combustível (tiveram que criar um novo sistema de injecção do combustível porque com o sistema tradicional demorava-lhes 24h a "atestar"; com o novo demoram apenas 1h), o único avião do mundo com maior envergadura de asas do que comprimento e um PVP recomendado de 280 milhões de dólares (um terço é para os motores, único componente que é comprado e não fabricado pela própria Airbus). Para termos direito a esta visita, passámos por um apertado esquema de segurança, digno dum edíficio secreto (todo o cuidado é pouco com os espiões da Boeing). Estivemos numa sala que simulava a "torre" (não é uma torre mas sim uma sala porque mesmo a verdadeira não tem janelas; portanto estivemos numa sala que simulava uma sala... fantástico) de controlo da Airbus e visualizámos alguns pormenores do primeiro voo de teste do A380. Depois demos uma volta pela fábrica (teve que ser de bus, tal era o tamanho; estamos a falar de 50 hectares de terreno e dum espaço coberto onde cabiam 500 campos de golfe) e o que mais me marcou foi quando a guia disse «Aquelas "paredes" que estão a ver da fábrica não são paredes mas sim portas que abre de par em par»; estamos a falar de portas com 45 metros de largura (a envergadura do A380 são 80 m e portanto abrem 2 portas, deixando um espaço de manobra de 5 m para cada lado). Há tantos pormenores que gostava de vos contar e que merecem tanto a pena serem aprendidos... Mas já me estou a esticar e não quero de maneira nenhuma monopilizar o espaço (faz de conta que este testamento vale por 2 meses já que o post do magnífico pda/smartphone/gps não teve muito sucesso). Incrível, incrível, incrível. Faz-nos estremecer tal é a capacidade da mente humana (mais dos engenheiros) de conceber tamanhas obras de arte.

E, citando o Markl, "são coisas que acontecem".
Obrigado por terem chegado até aqui.

Bjs mts/Abraço musculado (riscar o que não interessa)

Rijo

2 comentários:

  1. Ai Cháválo...tive de para a meio e dormir uma sesta para descansar! =o

    Parabéns pelo teu sucesso e espero que consigas atingir os teus objectivos, lá determinado estás tu, e isso já é um bom começo! ;)

    Quero deixar uma coisa clara. Para o caso de ser eu o tulicreme pacholenga, o que eu acho muito provável, o Dinis Pestana não me fez qualquer espécie de tratamento...já no caso do pipinho ele é que se tem de pronunciar =P

    Abraço
    Miguel

    ResponderEliminar
  2. Se queres para os teus filhos o mesmo tratamento que eu tive do Arrabaça, terei todo o gosto em fazer-lhes perguntas que eles terão obrigatoriamente que saber responder, por serem teus filhos, e em avisar-te quando eles faltarem às aulas.

    "num sítio com croissants ao pequeno-almoço uh lá lá", ou seja, em qualquer parte da França. :)

    Tirando esses dois reparos, é bom saber que estás em ascensão na empresa e que já vais a encontros com chefões! Invejo-te teres ido à Airbus, ainda estou para ver um A380 (que, por muito mais económico que seja, não chega aos calcanhares do Concorde em termos de estilo, aliás, nenhum chega).

    Ah, da mesma maneira que contas comigo para ensinar os teus filhos, eu conto contigo para me ajudares financeiramente quando estiver à beira da pobreza. :D

    Filipe

    ResponderEliminar