segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Invasoras

De facto já poucas pessoas escrevem neste blog malfadado. Poucas e, quando escrevem, escrevem atrasadas, como é o meu caso. Mas eu tenho uma boa razão: fui a um campo de trabalho cientifico, vulgo voluntariado em que se aprendem umas coisas!

Como alguns de vós devem saber, decorreu na passada semana na Mata do Desterro em Seia o 6º Campo de Trabalho Cientifico sobre Controle de Plantas Invasoras. E eu fui! O processo de selecção decorreu algumas semanas antes e baseou-se tanto nos locais de proveniência do candidato como na sua motivação para participar, pelo que tive de escrever umas baboseiras quaisquer sobre o meu interesse em invasoras. Acabei por ser escolhido, juntamente com outras 20 pessoas, de entre cerca de 50 candidatos, o que não é tão espectacular como o 1 em 500 do Rijo, mas que me deixou contente quando o soube.

Dirigi-me então a Seia, no dia 25 de Julho, sábado, após mais uma ida aos coelhos às 8 da manhã, na qual apenas se apanhou um, já que os caçadores fecharam mal as portas por onde eles normalmente passam e eles fugiram todos. Já em Seia conheci as 20 e tal pessoas com quem iria passar os próximos 7 dias em regime tipo "Big Brother". De referir que não as conhecia de lado nenhum, pelo que só ai seria uma experiência diferente.

O processo de conhecimento foi engraçado: os organizadores pediram que cada um se apresenta-se individualmente, dizendo o seu nome, proveniência e razões de ida, sendo que, após tal apresentação teria de dizer o nome de todos os que o antecediam. Escusado será dizer que, como me sentei atrás (malditos hábitos fculianos!) tive de dizer o nome de mil pessoas (que entretanto se tinham juntado à festa... ou não) o que originou um grande incómodo na minha pessoa, visto que não me consegui lembrar do nome de uns tantos.

Apresentações à parte, e depois de nos darem uma data de folhetos e livros sobre o CISE (Centro de Interpretação da Serra da Estrela) e sobre a Serra da Estrela (recebi um livro mesmo fixe sobre os répteis e anfíbios), fomos levados em visita às exposições do CISE, onde podemos visionar um fantástico filme em 3D, assim como visitar a exposição permanente, onde fui voluntário para experimentar um sistema de observação a 360º, onde basicamente nos punham um capacete na cabeça que nos permitia ver várias fotografias sobrepostas de um único local. Mas não se via nada. Ou pouquinho, vá.

Dirigimo-nos posteriormente para a casa onde iríamos ficar nessa semana. E que casa! No meio da montanha, a 950 metros de altitude, tendo de se passar por um caminho de 2 Km de terra sempre a subir, por momentos arrependi-me de levar o carro (especialmente quando ele derrapou na terra com uma ravina imensa do meu lado esquerdo). Mas chegámos lá sãos e salvos, às excepção de uma ou duas velhinhas que se atravessaram no meu caminho. À entrada da casa esperava-nos um homem, de aspecto envelhecido e de muitas histórias para contar. Era o presidente da junta.

Disse-nos, nessa altura, alguns cuidados a ter no uso da casa, assim como algumas histórias acerca da mesma, já que é uma casa que é visitada por várias pessoas ao longo do ano, algumas conhecidas, outras nem tanto, servindo igualmente de retiro a clérigos, o que me provocou alguns calafrios.

A casa era enorme. No piso de entrada tinha duas casas de banho, uma cozinha tipo restaurante com lavatórios gigantes e um fogão com bicos assustadores, uma sala de estar/de jantar e uma varanda com uma vista estonteante sobre o Oeste de Portugal. Tanto no piso inferior como no superior haviam vários quartos e casas de banho. Imensos quartos e casas de banho. Aí uns mil. Ou então 7 quartos e 2 casas de banho. É como preferirem. Seja como for, como ninguém gosta de ficar por baixo, toda a gente acabou por se deslocar para o piso superior, inclusive eu, tendo acabado por ficar num quarto com a mesma vista que se tinha da varanda. Fiquei eu e mais um rapaz chamado Hugo. As camas eram tipo beliche, pelo que fiquei por baixo, já que neste aspecto não se aplica o axioma anteriormente mencionado, precisamente porque gosto de sair da cama, e não de cair da cama e deslocar o ombro.

O trabalho consistia no seguinte: sair da casa às 8:30 para descer até à Mata do Desterro para descascar Acácias (eu já explico o processo, não se preocupem que ninguém as comia depois) até cerca das 12/13 horas, altura em que subíamos pelas íngremes encostas serranas, naquele que seria o grande exercício físico do dia, de volta a casa para almoçar. De tarde tínhamos algumas horas de formação sobre plantas invasoras e habitats nativos, sendo que o restante tempo era passado a confraternizar com uma quantidade de desconhecidos que acabaram por se revelar pessoas muito interessantes. E foi precisamente aqui que senti uma grande diferença em relação a outros cursos que já frequentei e que me leva a recomendar convictamente que um dia façam uma coisas destas. As pessoas eram de uma cultura e sentido de humor fabulosos, pelo que nunca se estava calado e constantemente se aprendia coisas novas sobre cada um e sobre as situações que encontrava. Acredito que se criou uma dinâmica de grupo bastante activa que nunca esperei vir a acontecer com gente desconhecida num local ermo durante uma semana.

Para finalizar, devo dizer que aprendi imenso, como só a prática pode ensinar, e adorei conhecer pessoas com os mesmo interesses que eu, mas que não conhecia e passei a conhecer. Aconselho vivamente, especialmente aos terrestres que andam por ai.


PS 1: O descasque das Acácias (Acacia dealbata) consistia num corte à altura da cintura do tronco da árvore e na posterior remoção até à raiz. Assim mais ou menos como se faz com os Sobreiros, mas matando a árvore.

PS 2: Parabéns Miguel e Rijo, pelo não desanimar quando as coisas parecem pior e sempre acreditar que conseguimos algo de bom e pela actividade e constante procura daquilo que nos motiva e faz feliz. Viva o pró-activismo!

3 comentários:

  1. Tás um homem grande Toni! :D
    O Zé Conde do CISE é um porreiro não é?
    Anda ter comigo à serra esta semana anda!
    ver cenas fixes e beber panachês!

    Abraço

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  2. Esse Zé só ouvi falar. Mas conheci o Alexandre e o Filipe, que também são uns porreiros. Esta semana vou de férias com a miúda, pelo que a serra tem de ficar para outra altura ;)

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  3. Oh Tony, que post engraçado. Já não escrevias assim desde a altura do "mensário". É bom saber que andam por aí espalhados a fazer coisas de que eu nunca ouvi falar. Nós é que também já fazíamos uma cena assim tipo Big Brother pois embora nos conheçamos todos, tenho a certeza que muitas coisas novas iriam surgir.

    Bons pequenos-almoços com a avó da Diana de roupão (ia dizer camisa-de-dormir mas já era demasiado assustador).

    Abraço musculado

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