sexta-feira, 31 de julho de 2009

Fuck'em all

Arô pessoal!

Fiquei muito surpreendido e ao mesmo tempo emocionado com a história do Rijo. Sempre gostei de mensagens de confiança e coragem, são uma forma de receber motivação para os diversos desafios da vida. Não me sinto muito confortável com este tipo de discursos mas não posso deixar de admirar a tua dedicação e determinação...são de facto inspiradoras! Resta-me desejar as maiores felicidades, sabendo que daqui para a frente só terás mais sucessos do que os que tiveste até agora.

Eu também tenho andado a lutar com as encruzilhadas da vida. Confirmando o prognóstico do Rijo dei mais um passo na minha carreira em Ciência. Pois é, fui admitido no programa doutoral da Escola de Ciências da Saúde, aqui em Braga. A partir de Setembro começo o meu Doutoramento em Ciências da Saúde, no seio de um grupo de pessoas que conheço, que me conhecem pessoal e profissionalmente, e que acima de tudo confiam e colocam grandes esperanças no meu trabalho. Não sei se sou merecedor de tanta confiança, mas a atitude deste grupo de pessoas, sobretudo nas fases difíceis, e a sua ajuda, são indiscritivelmente encorajadoras e transmitem muita segurança.

Este é apenas o final de uma história que começou à cerca de 3 meses. Lá por alturas de Maio comecei a pensar no que fazer depois de acabar o Mestrado. Sabia da vontade dos meus orientadores em que continuasse por cá, mas descobri a existência de um programa doutoral em Neurociências em Lisboa, organizado pela Fundação Champalimaud/IGC. Por óbvios motivos pessoais, e porque o programa ia totalmente de encontro aos meus interesses, concorri ao último. Se me passou pela cabeça que iria entrar num regime laboral completamente injusto, instável e monetariamente pouco recompensador, é claro que sim! Vejo que a classe científica, apesar de ser das mais qualificadas e importantes do país, é sistematicamente mal-tratada. O facto de continuar a haver ciência em Portugal é a prova (se é que era preciso alguma!) que não fazemos ciência pelo dinheiro ou pelo reconhecimento, mas estaria a mentir se dissesse que não me preocupam as questões monetárias. Podia ir para o estrangeiro onde a classe científica é mais respeitada, e isso também me passou pela cabeça, mas não vejo a questão de forma tão linear como "quero e vou"...mas isso são outras conversas...talvez um dia, quando essa situação se mostrar viável, eu me aventure.

O resultado da minha candidatura ao dito programa posso descrevê-lo como a maior desilusão, senão mesmo a única grande desilusão da minha vida. E não estou a falar de ficar desiludido por um passeio ter sido cancelado devido a uma chuvada, ou a desilusão de receber uma nota baixa num teste. Eu senti literalmente o chão a fugir-me debaixo dos pés, vi irem por água abaixo todos os planos e projectos que tinha construído para a minha vida. Foi-me negada a oportunidade de voltar a Lisboa, para junto de quem e do que é mais importante para mim. Foi desesperante não querer acreditar no que estava a ler e a cada nova leitura sentir a situação mais sufocante.

Felizmente uns dias depois foi-me dada uma segunda oportunidade. Num golpe de sorte, e graças a uma pessoa que desistiu, fui chamado para entrevista. O entusiasmo que senti foi sol de pouca dura, uma semana após recebo um novo mail a dar-me a noticia que não tinha sido aceite...novamente. Ainda não me tinha recomposto da rejeição anterior e já me encontrava de novo na merda. Ter de passar duas vezes pelo mesmo turbilhão de emoções é algo que não consigo explicar, mas desta vez foi pior, pois senti da parte dos responsáveis uma tremenda falta de consideração. Claro que estava ciente que isto poderia de novo acontecer, mas magoou-me a valer a forma desprezível como me comunicaram a decisão. O mesmo e-mail, copy-paste do anterior, sem tirar nem pôr. A mesma conversa condescendente no mesmo tom que tendo em conta tudo o que se tinha passado antes tresandava a falso. Comunicar uma decisão destas, a uma pessoa que perdeu dois dias de trabalho; apresentou os seus projectos, tendo de organizar tudo de véspera; que com eles travou conhecimento e que já tinha passado por um momento difícil, merecia de certo uma maior consideração e respeito, e não um comunicado impessoal que é enviado para mais de 100 pessoas, como foi o caso do primeiro e-mail que recebi. Quando se dissipou o desespero cresceu uma tremenda raiva em mim.

Uma vez mais o apoio dos que me rodeiam foi importante para não desanimar. Os meus orientadores disseram-me exactamente o que precisava de ouvir na altura. Felizmente tinha outras alternativas. Concorri a mais dois programas, um aqui em Braga e outro entre faculdades de Braga, Coimbra e Lisboa. Fui aceite nos dois mas escolhi ficar aqui em Braga. Após alguma reflexão concluí que este programa me dá maior flexibilidade para construir como entender a minha formação, criar, como o Rijo diz, o meu próprio trilho. Sei que serei bem acolhido e que terei todo o apoio dos meus orientadores, e no que diz respeito à minha formação, apesar de ser menos dirigida como a que receberia em Lisboa, é garantidamente de qualidade, não fosse eu trabalhar com grupos que entre outras façanhas descobriram o relógio molecular que governa o desenvolvimento de algumas estruturas do organismo; que publicaram recentemente um dos poucos, senão mesmo o único, SCIENCE, 100% Português; e que irão publicar um trabalho no New England Journal of Medicine, uma revista que tem só um impact factor de 50!

Por tudo isto faço minhas as palavras do Rijo. É preciso dedicação e determinação para termos sucesso e sermos felizes, para atingirmos os nossos objectivos. Os sacrifícios fazem parte do caminho e muitos, pelo que me dizem e eu quero muito acreditar que assim é, acabam por trazer recompensas maiores! O meu espírito agora resume-se ao seguinte: "Não me aceitaram! FUCK'EM ALL!!!" Sei que tenho valor no que faço, sou trabalhador e só preciso de condições para o mostrar e das pessoas certas a guiarem-me o caminho e que acima de tudo acreditem em mim. Pois bem, aqui em Braga tenho tudo isso e só me resta fazer a minha parte.

A raiva ainda a sinto e canalizo-a agora para o meu trabalho...para que não me faltem forças para ter sucesso! Quem sabe, talvez tudo o que me aconteceu teve uma razão de ser!

Vêmo-nos por aí, num SCIENCE qualquer! ;)
Miguel C.

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